sábado, 14 de dezembro de 2013

Como viver de música?

O mercado da música, não só no Brasil, como no mundo todo, está vivendo um processo de transformação. A lógica da lucrativa indústria fonográfica, que imperou por décadas, chegou ao fim. Os avanços tecnológicos, a internet, os smartphones e diversos novos dispositivos alteraram profundamente a dinâmica do consumo dessa arte.

Entretanto, a pergunta que dá título a esta matéria não é novidade. Mesmo com o mercado musical enfrentando uma revolução e se redescobrindo, a ignorância em relação à profissão do músico permanece intacta. Por este motivo, o Cultura e Mercado conversou com os músicos Kiko Dinucci e Benjamim Taubkin para entender quais as possibilidades e questões de quem vive de música.
“Em toda minha vida nunca vi um professor dizer na sala de aula que existiam profissões como dramaturgo, compositor, artista plástico. Tudo começa pela educação e, enquanto ela estiver abandonada da maneira como está, as profissões ligadas à arte não terão uma resposta minimamente digna”, relata o paulistano Kiko Dinucci.

O livro “Viver de Música – Diálogos com Artistas Brasileiros” foi escrito por Benjamin Taubkin há três anos. Ele decidiu escrever o livro quando se deu conta de que muitas pessoas viviam (e não apenas sobreviviam) de música e que ninguém sabia, pelo motivo exposto por Dinucci, que profissão era essa.

Por isso, o livro se propõe a contar o dia-a-dia de diferentes músicos profissionais e das diversas possibilidades de fazer dessa arte um “ganha pão”. De acordo com Taubkin, o problema da falta de reconhecimento da profissão também está nos próprios músicos: “Há uma carência de percepção, esse mercado não olha para si como mercado”, explica. “E é por isso que muitos buscam recursos de fora como editais e esse olhar de carência enfraquece a arte e o artista. Se você acha que precisa de ajuda já se pressupõe uma situação difícil”, lamenta o autor.

Para ele, a maior mudança desde 2010, quando realizou as entrevistas para o livro, foi que os músicos, em geral, ficaram ainda mais dependentes de editais, quase os percebendo como única possibilidade de financiamento. “Mas também está se formando um grupo de artistas que se preocupa mais com a própria autonomia e que percebe que visar o edital como única alternativa vai trazer problemas a longo prazo.”

Kiko Dinucci faz parte desse grupo. Apesar de ter feito uso de editais, seu projeto de maior visibilidade, o Metá Metá, nunca recebeu qualquer tipo de incentivo. “Inventamos uma maneira autossustentável. Não temos a preocupação de aumentar o tamanho das coisas, estamos construindo o público aos poucos. Não temos empresários, produtores, nem assessores. Isso não é apenas uma estrutura econômica, é estética também. Criamos uma música brasileira que é diferente de tudo que está no mercado, esse é o maior marketing do grupo, a qualidade do trabalho, o frescor, a inquietude. Nossa prioridade é gravar discos bons, em estúdios bons e surpreender o nosso público. Tudo começa pela arte”, declara o músico.

Dinucci também acredita nos males causados por quem enxerga o edital como única opção: “Já vi várias pessoas se afundarem por esperarem sempre por esse dinheiro, como se fosse um vício vital, sofrendo em meio a jogos políticos para chegarem ao dinheiro. Creio que cada artista deve inventar o melhor jeito de se bancar. Os incentivos ajudam muito, mas não podem ser a única alternativa, isso mata a arte”, completa.

Benjamim Taubkin é um reconhecido pianista e compositor. Desde os 18 anos dedica-se integralmente à música. Já tocou em diversos países, em todos os continentes. Sua vasta experiência o faz ver muitas portas e possibilidades para quem quer seguir essa carreira. “É preciso correr riscos, ter ânimo, aceitar o fracasso e seguir em frente, se aventurar. Mas muitas vezes os músicos se dispõem muito pouco, se acomodam e reclamam. A vida é dura para todo mundo, para os professores, para jornalistas, para médicos. Não é uma exclusividade dos músicos”, conclui.
Dinucci reforça: “Não existem fórmulas fechadas. Todo dia é preciso se reinventar, criar novas maneiras de sobreviver de arte. Encaro como positivo o fato de o músico ser obrigado a se virar e aprender como funcionam as coisas”, reflete.

FONTE: Texto disponível  no site Cultura e Mercado: www.culturaemercado.com.br

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