O mercado da música, não só no Brasil, como no mundo todo, está
vivendo um processo de transformação. A lógica da lucrativa indústria
fonográfica, que imperou por décadas, chegou ao fim. Os avanços
tecnológicos, a internet, os smartphones e diversos novos dispositivos
alteraram profundamente a dinâmica do consumo dessa arte.
Entretanto,
a pergunta que dá título a esta matéria não é novidade. Mesmo com o
mercado musical enfrentando uma revolução e se redescobrindo, a
ignorância em relação à profissão do músico permanece intacta. Por este
motivo, o Cultura e Mercado conversou com os músicos
Kiko Dinucci e Benjamim Taubkin para entender quais as possibilidades e
questões de quem vive de música.
“Em toda minha vida nunca vi um professor dizer na sala de aula que
existiam profissões como dramaturgo, compositor, artista plástico. Tudo
começa pela educação e, enquanto ela estiver abandonada da maneira como
está, as profissões ligadas à arte não terão uma resposta minimamente
digna”, relata o paulistano Kiko Dinucci.
O livro “Viver de Música – Diálogos com Artistas Brasileiros” foi
escrito por Benjamin Taubkin há três anos. Ele decidiu escrever o livro
quando se deu conta de que muitas pessoas viviam (e não apenas
sobreviviam) de música e que ninguém sabia, pelo motivo exposto por
Dinucci, que profissão era essa.
Por isso, o livro se propõe a contar o dia-a-dia de diferentes
músicos profissionais e das diversas possibilidades de fazer dessa arte
um “ganha pão”. De acordo com Taubkin, o problema da falta de
reconhecimento da profissão também está nos próprios músicos: “Há uma
carência de percepção, esse mercado não olha para si como mercado”,
explica. “E é por isso que muitos buscam recursos de fora como editais e
esse olhar de carência enfraquece a arte e o artista. Se você acha que
precisa de ajuda já se pressupõe uma situação difícil”, lamenta o autor.
Para ele, a maior mudança desde 2010, quando realizou as entrevistas
para o livro, foi que os músicos, em geral, ficaram ainda mais
dependentes de editais, quase os percebendo como única possibilidade de
financiamento. “Mas também está se formando um grupo de artistas que se
preocupa mais com a própria autonomia e que percebe que visar o edital
como única alternativa vai trazer problemas a longo prazo.”
Kiko Dinucci faz parte desse grupo. Apesar de ter feito uso de
editais, seu projeto de maior visibilidade, o Metá Metá, nunca recebeu
qualquer tipo de incentivo. “Inventamos uma maneira autossustentável.
Não temos a preocupação de aumentar o tamanho das coisas, estamos
construindo o público aos poucos. Não temos empresários, produtores, nem
assessores. Isso não é apenas uma estrutura econômica, é estética
também. Criamos uma música brasileira que é diferente de tudo que está
no mercado, esse é o maior marketing do grupo, a qualidade do trabalho, o
frescor, a inquietude. Nossa prioridade é gravar discos bons, em
estúdios bons e surpreender o nosso público. Tudo começa pela arte”,
declara o músico.
Dinucci também acredita nos males causados por quem enxerga o edital
como única opção: “Já vi várias pessoas se afundarem por esperarem
sempre por esse dinheiro, como se fosse um vício vital, sofrendo em meio
a jogos políticos para chegarem ao dinheiro. Creio que cada artista
deve inventar o melhor jeito de se bancar. Os incentivos ajudam muito,
mas não podem ser a única alternativa, isso mata a arte”, completa.
Benjamim Taubkin é um reconhecido pianista e compositor. Desde os 18
anos dedica-se integralmente à música. Já tocou em diversos países, em
todos os continentes. Sua vasta experiência o faz ver muitas portas e
possibilidades para quem quer seguir essa carreira. “É preciso correr
riscos, ter ânimo, aceitar o fracasso e seguir em frente, se aventurar.
Mas muitas vezes os músicos se dispõem muito pouco, se acomodam e
reclamam. A vida é dura para todo mundo, para os professores, para
jornalistas, para médicos. Não é uma exclusividade dos músicos”,
conclui.
Dinucci reforça: “Não existem fórmulas fechadas. Todo dia é preciso
se reinventar, criar novas maneiras de sobreviver de arte. Encaro como
positivo o fato de o músico ser obrigado a se virar e aprender como
funcionam as coisas”, reflete.
FONTE: Texto disponível no site Cultura e Mercado: www.culturaemercado.com.br
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